Obrigado Mr. Holdsworth….
É chover no molhado ,ou dizer que um peixe vive na água, afirmarmos que a noite paulistana era outra nos idos finais dos anos oitenta, inicio dos noventa; priscas eras
Um aspirante a guitarrista profissional encontrava inúmeras dificuldades, em contrapartida existiam também territórios virgens de oportunidades para realizar seus sonhos.
Me incluía nesta casa de sonhadores , aprendizes de feiticeiros que buscavam sem se dar conta, a iluminação via o sacerdócio da guitarra, seu estudo, sua via crucis, sua gloria, seu sansara, seu nirvana….
Espalhados pelos cantos da fauna urbana, encapsulados em suas cavernas buscávamos nossa verdade no amor pela guitarra
Em 1990, tenho a memória vivida de estar voltando num taxi de um show que havia tocado no bairro do Bixiga, tradicional reduto de bandas num domingo após ter feito uma gig lá.
Fragmentos de nossa memória , que montam esta colcha de retalho que chamamos de existência.
Lembro de uma galera que ja perguntava do meu equipamento no final deste show….jogar minha fender branca no palco….tocar Crossfire do Steve Ray que tinha acabado de desencarnar…naquela semana..uma garotada tinha ido no bar me ver tocar, via um certo burburinho em relação a minha pessoa.
A banda,ora a banda, era uma banda pop que estava sendo produzida por um Ex RPM e me deram um pé na bunda meses depois, por acharem que estava soando mais como um musico convidado e não do time..( o bom de ficar velho, crianças ,é poder nesta altura do campeonato falar ,o que tava engasgado desde aquela epoca ; tipo:” _ Fodam se vcs!!!! Meu nome virou verbete do Wikipidia….” ahhhhhhhh como é bom falar isso nesta altura do campeonato…. rsssssssss)
Enfim, voltando pro táxi; o motorista ,cara bacana, mas notoriamente trincadão, só falava de putaria comigo e com meu fiel escudeiro, meu saudoso pai, que passava também um encruzilhada na vida, e meu inicio de carreira era para ele uma bela distração.
Do nada , na radio do carro começou a tocar Panic Station do Projeto IOU do Allan Holdsworth.
Momento de pura transcendência, ouvir o vinil que tinha gasto as calças para comprar soar pelas ondas no radio, perfumando e dando sentido as luzes caóticas de um tempo de transição na Terra da garoa.
Acalentando os sonhos de um garoto tímido crônico e inseguro que buscava no amor à guitarra sentido para a própria vida
Acordes futuristas que mais tarde fui descobrir na faculdade que lembravam Ravel, Debussy e Bartok.
Seus ligados infernais que transcendiam o toque de asas de anjos , conduzindo nossa alma até a pura musica das esferas.
Como muitas grandes almas, Allan teve uma vida sofrida….era apaixonado pela musica de Coltrane…mas a família de poucas posses lhe deu um violão.
Como todo grande inventor repaginou as camadas de som de Trane no seu fraseado.
Outro momento poético envolvendo o Allan, foi com um de meus heróis e mentores o Wander Taffo. Ele costumava brincar de cabra cega comigo e com o Regis Tadeu , colocando sons obscuros no micro e vendo de se conhecíamos.
Um dia duvidou se eu conhecia um; no primeiro ataque falei: “_ In the dead of Nigth!!!!….UK…com o Allan Holdsworth….tenho o CD..o Vinil e toco o solo nota por nota..” ele cagou de rir…
Um dos heróis do Allan era o cientista Nikola Tesla, cuja utopia da torre que dava energia de graça, virou nome de um disco do Allan.(Wanderclyffe Tower).
Allan conseguiu este feito..criou uma energia musical que esta ai….no infinito guiando a quem quiser até a musica das esferas
Obrigado Allan…..
Oka..16 de abril de 2017