5 de março de 2022

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por: mokayama

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Categorias: music

Sonoridades exóticas

Sonoridades exóticas…

A primeira coluna que tive publicada numa revista de guitarra , a saudosa Guitar Player em português, tratava de um assunto que pesquisava de maneira embrionária , nos idos dos anos 90 as escalas exóticas; estruturas melódicas que vinham da música étnica, principalmente da Ásia, continente cuja cultura, filosofia e espiritualidade sempre exerceu fascínio sobre artistas e público em geral do Ocidente.

Essa coluna abrangia basicamente alguns shapes e análise modal de pentatônicas com omissão de notas que consistiam escalas ditas exóticas, tiradas de discos de world music (que sempre me fascinou),solos e licks de guitarristas que admirei,como de Marty Friedman, Jason Becker, John Mclaughlin e até dos sons mágicos do multi-instrumentista japonês Kitaro(um de meus maiores heróis) e dos sons transcendestes do citarista indiano , Ravi Shankar.

A profundidade da música oriental, suas respectivas implicações filosóficas e espirituais estavam acima na imitação das sequências de notas e fraseado. Cada articulação , respiração, fraseado , estruturas e formas musicais iam muito além…estão todas imbuídas diretamente com fatores extra musicais, de maneira profunda com a visão filosófica e espiritual destes povos.

Fica exemplificado pelas ragas indianas; usadas como blocos fundamentais de construção da música clássica deste país, baseada na improvisação livre sobre estas estruturas. Sendo que existem ragas que estão ligadas a qualquer fato da vida deste povo, desde fatores mundanos, até questões espirituais, existindo ragas(escalas) para cada situação de nossa existência.

Muitos músicos que lançaram a base de nossa fundação , como por exemplo John Coltrane, mergulharam em águas profundas , no intuito de absorver e transmutar a luz destes sons étnicos como base de fusões novas; no caso particular de Coltrane, numa nova direção para a improvisação contemporânea, mudando os rumos do jazz moderno (curiosidade fica que John batizou seu filho como Ravi, em homenagem ao citarista). Coltrane serve como exemplo de pesquisa árdua .Reza a lenda que ele saía em tournê apenas com o estojo do saxofone e uma cópia do livro Thesaurous of Scales and Melodic Patterns, de Nicolas Slominsky, um livro obrigatório para entender a improvisação moderna ( livro de cabeceira para músicos como Zappa, Mike Stern, Buckethead, Shaw Lane, Allan Holdsworth ,entre inúmeros outros).

Márcio Okayama